
Mudando da água pro vinho: Quanto está o garrafão de cinco litros de água? Uns R$ 4. E o garrafão de vinho: uns R$ 13. Claro, um vinho chinelão, mas como vou comparar uma água de marca boa? Só a Perrier, que custa muito, então teria que comparar com um baita vinho, aí não teria noção.
Bom, o fato é que esse cara aí da foto simboliza uma das revoluções das últimas décadas: a emergência da água como bem "natural", integrado num ideal de vida decente e simulado. A fala d´água, como mais um produto, é o fator de diferenciação social, como um corpo bonito, o intelecto desenvolvido e os alimentos "orgânicos". Ele é o avesso do ideal de vida monastérico, pois Dionísio não se preza frente a uma garrafa de vinho, e, é certo, como deus do vinho, deve ser no mínimo o Jesus do queijo. Assim, a emergência de um mundo em busca da água como fonte realizadora de vida traduz-se num contraponto da derrocada do vinho como percepção da morte, como aproximação da humanidade de seu aspecto humano, num certo sentido, como geração de um simulacro de vida que vende-se com as condições ambienteais.
Com certeza a não-realização das idéias iluministas de racionalidade universal e disseminação da educação resultará em um retrocesso da ciência, e, como resultado, muita gente vai apelar pra religião e pro"misticismo" pra complementar seu entendimento, gerando um preço a ser pago como toda promeesa: " a mentira tem pernas curtas", no caso (dos críticos do racionalismo), a filosofia racionalista seria estreita. Hoje em dia, por exemplo, o desenvolvimento científico é cada vez mais demorado, no sentido de que grandes descobertas serão cada vez mais raras, gerando espaço temporal e midiático suficientes para o questionamento da ciência, e, sendo assim, para a contestação da razão.
No início do século XVIII, o Iluminismo fazia mais sucesso que a camisinha de vísiceras de porco. Isso porque o ritmo de descobertas e proposições científicas era frenético, o que desmembrava a filosofia em departamentos cada vez mais específicos: a produção intelectual como especialização psicofatrurada (em contraposição à manufaturada). Agora, a água não toma o lugar do vinho? Das duas, uma: ou a interpretação vai ser explorada economicamente e será exaurida como produto cultural, ou o ideal misticista ganhará terreno a ponto de repetir o embate medieval ciência X religião.